sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Chólita ou mais um nosso amigo de 70 anos

Depois da menina Deolinda falo-vos hoje do Cholita. E quem é o Cholita?
Ora bem, das traseiras lá de casa vê-se, a norte, a serra e um pouco de mar. Vê-se também a escolinha. E é nestes campos que anda diariamente um pastor com as suas ovelhas. Conhecemo-lo logo no início, ainda quando só estavamos a namorar a casa.
Apresentou-se " O meu nome é Jirónimo mas todos me tratem por Chólita". [ Por uma questão de privacidade pensei em ocultar aqui no blogue a alcunha do senhor mas pelos vistos há mais do que um Chólita neste nosso lindo Portugal.]
Com 73 anos, pequeno, de tez queimada pelo sol e os dedos a adivinhar arteroses, logo ali tratou de nos contar a história da casa e a sua própria história. O Chólita – ou Chólica como diz o meu pai - desde então tem passado com frequência pela AC para dois dedos de conversa. Foi através dele que soubemos que a casa foi em tempos uma taberna e que uma das pessoas que a habitou se chamava D. Brites (a bisavó do Cholita) e tinha um feitiozinho a atirar para o retorcido.
Há uns tempos atrás ofereceu-nos legumes e fruta para o almoço de domingo. E como é dado à converseta começou a falar do que gosta e não gosta de comer. Mas o Chólita tem um sotaque que às vezes é dificíl de entender. Falava-me que não gostava de comer "cárrrrrene" e eu não percebia o que ele queria dizer. Voltou a repetir "Não gosto de cárrrrene, gosto mais de ligumes, dumas repolhadas". E eu sem lata de lhe perguntar de que raio estava ele a falar. Só quando falou em borrego é que se fez luz: não gosta de carne!
Também um destes dias apareceu - já aqui contei isto? - com um molho de ervas no ouvido. O sr. AC não resistiu a perguntar o que era aquilo. Explicou que era erva azeitoneira e que fazia muito bem à dor de ouvidos...Também já nos contou como conheceu a mulher e como fugiu com ela porque a família dela não aceitava o namoro. E já levou o sr. AC a dar um passeio pelos campos para conhecer algumas das ervas que por ali crescem. Contou também como se prepara o engodo para as moreias. E que nunca quis deixar a terra onde nasceu para ir para o mar, quando na década de 60/70 não havia ali trabalho. Ficou com o pai. Ficou com a terra. Ficou com os animais. Ficou com o coração.
Tivesse este blogue som e terminava o post com a forma catita como o Chólita chama as ovelhas: "Anda cá ovelhinhaaaaaaaaaaaaaa!!!"

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