segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sensibilidade musical

Com a chegada da Maria estou mais próxima do cancioneiro popular infantil e chego à conclusão que tem músicas a roçar o sádico e o cruel. Veja-se o clássico "Atirei o pau ao gato". O titulo já diz tudo mas analisando a letra verifica-se um comportamento desviante:

Atirei o pau ao gato to - to
Mas o gato to-to
Não morreu eu-eu
Dona Chica ca-ca assustou-se se
Com o berro, com o berro
Que o gato deu - miau.

Assentada à chaminé é-é
Veio uma pulga ga-ga mordeu o pé é-é
Ou ela chora ou ela grita
Ou vai-se embora - pulga maldita


Nesta versão o coitado do gato morre mesmo:

Era uma vellha lha,
matou um gato to,
com a ponta ta,
do seu sapato, to.
Pobre velha lha,
pobre gato,
pobre ponta ta,
do seu sapato, to.

Passemos agora à música Linda Falua e a crueldade para com a pobre mãe:

Que linda falua,
que lá vem, lá vem,
é uma falua,
que vem de Belém.

Eu peço ao Senhor Barqueiro
que me deixe passar,
tenho filhos pequeninos
não os posso sustentar.

Passará, não passará,
algum deles ficará,
se não for a mãe à frente,
é o filho lá de trás.

Temos também o Dlim Dlão, verso curtinho e pouco simpático:

Dlim Dlão
Cabeça de cão
Orelhas de gato
Não tem coração

Mas a mais estranha de todas é uma música que eu recordo da infância e que era banda sonora para aquele jogos de mãos.

Se tu visses o que eu vi
Dominó
À porta do tribunal
Dominó
As cuecas do juiz
Dominó
Embrulhadas em jornal
DO-MI-NÓ
Esta rua cheira a sangue
Dominó
Quem será que se matou
Dominó
Foi a mãe do meu amor
Dominó
Que da janela se atirou
DO-MI-NÓ


Esta rua cheira a sangue??!

8 comentários:

  1. Não sei se sabes da queda do meu pai - aka Bigodes - para o cancioneiro (bizarro) português!

    Ele gostava muito de nos cantar uma canção, com uma voz ainda mais bizarra, que dizia o seguinte (ou parecido):

    "Casei com uma velha
    Da Ponta do Sol
    Deitei-a na cama e o raio da velha rasgou-me o lençol.
    Tornei a deitar, ela tornou a rasgar,
    e eu virei o raio da velha de pernas p'ró ar!"

    Enfim, cá está!!

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  2. Posso acrescentar que existe uma Ponta do Sol em cabo Verde? Será que era uma velha crioula tramada? eheheh


    sim, as canções para crianças são mesmo muuuuuuuiiitttooo estranhas. Depois também temos estórias menos porreiras, como Hansel e Gretel que são abandonados pelo pai na floresta, ou os lobos que são uns malvados e comem a avó (!) e tentam comer a miúda de vermelho e umas tantas outras.

    A verdade é que apesar desta crueldade e churrilho de ideotices, acho que saí uma pessoa normal :P Será que na realidade estas músicas e estórias sádicas têm alguma influência ou estamos mais atentos ao ritmo do que propriamente à letra?

    Não sei, mas seja como for, mais vale jogar pelo seguro e tentar cantar umas coisas mais... pedagógicas!

    Kisses

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  3. Não! Eu sempre imaginei uma velha gaiteira da Ponta do Sol, Madeira, que cozinhasse semelhas ao marido!! Ser crioula, muda um bocado o meu imaginário.. mas sim, podia fazer uma cachupa :D

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  4. As histórias infantis têm todas nos seus primórdios as lendas e fábulas dos antigos povos, não foram obra da criatividade dos seus autores, mas no fundo são memórias colectivas do povo que depois se transformam. Por isso não são felizes e não acabam bem.

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  5. Ahah!Não fosse a Rita fazer esta magnifica observação e se calhar nem nunca dava por ela. E mesmo verdade, as canções infantis são sádicas e muito fora.
    Sim, faz sentido serem lendas e fabulas transformadas. Digamos que noutro tempo as crianças eram mais rijas, e depois cresciam para se tornarem adultos sempre prontos para a matança...Do que me lembro (eu ate cantava bastante)o ritmo era muito importante para a maioria das crianças. Quando se sabia a letra era um orgulho, eu gostava de mostrar que sabia e acho que quem cantava comigo também. Em relação a letra, acho que interpretava com imaginação e não sabia o que era sádismo e achava piada.

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  6. eheh! já tinha feito uma análise destas há uns anos no meu blog!e tenho mm a ideia q na altura cantávamos como se fosse em inglês! não apanhávamos a letra!:)

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  7. Nem a propósito, ora vê: http://www.facebook.com/photo.php?v=2332267799176

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  8. ahahaha! O gato revoltou-se Patrícia! Muito bom!

    Marlene: eu vou-te confessar que tenho perfeita noção de não perceber uma parte da musica " atirei o pau ao gato" devido à maneira como a cantava, ou seja, tudo seguido. Era aquela parte do "com o berro que o gato deu". Eu cantava " Cuberru, cuberru, que o gato deu", e não percebia o que raio queria dizer "cuberru"! :) :) Básico eu sei, mas há que dar o desconto já que tinha 5/6anos e os meus circuitos ainda estavam em afinação :)

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