quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Salsicha




Apareceu lá por casa pelas mãos de minha mãe que a salvou de ter um fim precoce e cruel. Pequenina, parecia uma salsicha e assim foi baptizada: Salsicha. A rafeira Salsicha tinha um pêlo castanho muito curtinho, que quando apanhava chuva fazia jus à expressão "cheiro de cão molhado". Era fedorenta e velhaca. Roubava tudo o que pudesse ser comestível. Um ano a minha mãe tirou um alguidar cheio de bacalhau a demolhar de cima da bancada e colocou-o no chão por uns momentos. Quando o voltou a colocar na bancada da cozinha deu por falta de umas quantas postas, obra da Salsicha que sorrateiramente foi levando bacalhau para a casota. Também roubava fruta dos sacos de compras pousados no chão enquanto procurávamos a chave da porta. E era friorenta. Em tempos houve lá por casa uma lareira muito grande e quando o lume se resumia a meia dúzia de brasas encostadas a um canto lá ia a Salsicha para dentro da lareira dormir. Adorava festas e quando alguém chegava deitava-se de barriga para baixo para receber afagos. Certo dia ficou repentinamente doente, muito doente. O corpo já a ficar frio, sem sinais de dar grande luta ao mal que se apoderara dela, ninguém achava que ela se ia safar. Daquela noite não passava. Na manhã seguinte, por obra dos insondáveis mistérios deste nosso universo, a Salsicha regressou ao seu estado de alegria constante e parecia que não era nada com ela. Suspirámos de alívio e tudo voltou ao normal.


Acho que nunca foi uma boa cadela de guarda porque o que ela queria mesmo era sopas, descanso e brincadeira. E festas, claro. A Salsicha adorava a minha mãe e era a sua pequena sombra, sempre a cirandar pela casa atrás dela. A Salsicha ia fazer 20 anos (20!) e morreu no dia de Natal. Vinte anos. Mais de metade da minha vida. Há lá coisa mais triste?

3 comentários:

  1. óoo :( lamento muito....
    eu nunca pude ter um animal de estimação... mas acredito pelo que vejo nas pessoas que têm que é das coisas mais tristes sim.

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  2. Muito triste, quando me morre algum animal eu sogro horrores. nem quero imaginar o que será de mim quando a minha Vega se for... resta-nos a certeza que lhe proporcionámos uma boa vida.
    beijinhos

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  3. :)obrigada.

    Beijinhos para as duas!

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